Fã de livros de fantasia mobiliza autores para pressionar editora a melhorar traduções

Tuíte de editora levou leitores a denunciar a autores internacionais sérios erros de tradução e outros problemas do selo Galera Record; reação fez empresa se comprometer a ouvir mais os fãs.


Na tarde do último sábado, a editora Galera Record, selo do Grupo Editorial Record dedicado ao público jovem e adolescente, publicou um detalhado pedido de desculpas aos seus leitores. O local escolhido para o posicionamento oficial da empresa foi o mesmo onde três dias antes, sua própria editora, Rafaella Machado, havia inadvertidamente dado início a uma pequena revolta digital: o Twitter. Rafaella, que é herdeira do Grupo Record, tuitava contra a pirataria (“Quer ler um livro? Vá a uma biblioteca”, escreveu) quando respondeu a um tuíte que comparava o crime a racismo e estupro com uma frase curta: “Pirataria culposa kkkk”.

O tuíte enfureceu fãs de autores que a Galera Record publica no Brasil, vários deles best-sellers mundiais, como  Cassandra Clare (das séries “Os instrumentos mortais” e “Os artifícios das trevas”) e Sarah J. Maas (de “Cidade da Lua crescente” e “Corte de espinhos e rosas”). Uma das que mais se revoltou foi uma jovem de São Paulo de 19 anos, formada em Análises Clínicas, leitora “apegada e acostumada à fantasia, romance e ficção científica” e que se identificou à reportagem apenas como “Jules”.

Em inglês, ela marcou alguns autores e apontou três pontos que considerava falhos na editora brasileira: traduções ruins, má qualidade dos livros e a “falta de profissionalismo”. “Estamos cansados de desrespeito e queremos que os autores saibam para quem estão vendendo seus trabalhos e o que está acontecendo aqui. Então, marque os autores, editores, gerentes”, convocou. Em pouco tempo, a thread com as falhas da Galera Record ganhou força entre os fãs e chegou a, ao menos, 15 autores que a editora publica no Brasil.  Até o momento, a thread foi compartilhada nove mil vezes.

Erros de tradução

Jules apontou erros em traduções que  alteraram a cor de pele de personagens da trilogia “Cidade da Lua Crescente”, de Sarah J. Maas (“todos os personagens não-brancos foram embranquecidos”) e a sexualidade de um personagem da série  “Os instrumentos mortais”, de Cassandra Clare (a frase “I’m not gay. I’m not straight”, “eu não sou gay. Eu não sou hétero” foi traduzida como “Eu não sou gay. Eu sou hétero”). “Ao meus leitores brasileiros, obrigada por me alertarem sobre os problemas com a tradução brasileira dos meus livros. Eu estou surpresa e horrorizada com essas notícias”, respondeu Cassandra Clare, em português. “Eu irei falar com o editor o mais rápido possível. Obrigada por sua paixão e dedicação.”

“Além das traduções pobres, os livros também têm baixa qualidade. Tipo, baixa mesmo”, continuou Jules. Segundo ela, livros do selo Galera vêm com problemas como páginas coladas, cortadas, com letras apagadas e desalinhados, além de amarelarem muito rapidamente. “Reclamamos disso há anos e eles sempre dizem que vão mudar o papel, mas nunca o fazem”, disse. Para ela, porém, o estopim da revolta foram os tuítes da editora Rafaella Machado.

— Eu não sei se posso falar por todos, mas comigo definitivamente foi o caso. Já estava com problemas com a editora há um tempo, e isso foi a “gota d’água” para mim e acho que para muitas pessoas — diz, em entrevista ao GLOBO.

A escalada de críticas, e as respostas de autores como Meg Cabot (de “Diário de uma princesa”), Holly Black (“O príncipe cruel”), Colleen Hoover (“Assim que acaba”) e Rory Palmer (“Meninas selvagens”), levaram ao pedido de desculpas da editora no sábado. Em 22 tweets, a Galera Record se comprometeu a ouvir as queixas dos leitores e mudar. “Estamos de verdade comprometidos e não aceitamos a publicação de qualquer termo ou expressão que possam ser ofensivos para os nossos leitores”, afirmou a empresa, que também se manifestou sobre os tweets da editora Rafaella. ”É descabido comparar pirataria com estupro. Pedimos desculpas pela postagem, que já foi apagada, que é completamente imprópria e não reflete a opinião nem da editora nem do Grupo Editorial Record”.

Esta reportagem foi publicada originalmente no site O Globo, em 30 de novembro de 2020.

Foto de Patrick Tomasso na Unsplash

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