Tradutor comenta alteração em termos de O Senhor dos Anéis

Entenda a mudança de “orc” para “orque” nas novas edições brasileiras da obra.


Reinaldo José Lopes, que traduziu A Queda de Gondolin, a nova edição de O Silmarillion e está trabalhando na nova versão de O Hobbit, contou como foi o processo de mudanças de terminologia nas novas edições dos livros de J.R.R. Tolkien no Brasil, como a alteração da palavra “orc” para “orque”.

Todas as decisões foram tomadas com base no Guia de Nomes em O Senhor dos Anéis, uma série de sugestões escritas pelo próprio autor para orientar os tradutores durante o processo de adaptação para uma nova língua. Lopes acha importante ressaltar um elemento fundamental da bibliografia do autor que serve como uma linha principal para todas as traduções: Tolkien não enxergava seus livros como uma obra criada por ele. O escritor enxergava as histórias da Terra-média como manuscritos antigos e documentais de uma época distante encontrados e simplesmente traduzidos para o inglês por ele. Com isso em mente, todos os termos que foram apresentados originalmente em inglês teriam de ser traduzidos para a língua na qual os livros serão publicados.

O tradutor explica que “orc” é uma palavra em inglês que surgiu na Idade Média, cujo significado original é a de “ser infernal, demônio ou monstro” e que Tolkien escolheu para se referir às criaturas que aparecem nas histórias da Terra-média. “Por ser um termo em inglês, ele tem que ser traduzido”, diz Lopes. “Porém, Tolkien ressalta que como sonoridade e como estilo, o som geral de ‘orc’ já está bom e esse som tem que ser mantido”, acrescenta. No caso de línguas germânicas, como é o caso do alemão ou o sueco, a grafia de “orc” foi substituída por “ork” para que a fonética da palavra fosse a mesma.

Nós fizemos exatamente um análogo disso para o português. Nós não temos naturalmente no português palavras terminadas em ‘c’ e num geral também não temos palavras terminadas em ‘k’, e, portanto, pensando nisso, nós colocamos uma grafia que tem um som parecido, que é o ‘q-u-e’, que é basicamente como uma pessoa pronunciaria o ‘c’ de ‘orc’. A ideia então, pensando que “orc” é uma palavra que veio do inglês antigo para o inglês moderno, nós então pensamos como essa palavra, que veio do inglês, seria escrita no português caso ela tivesse entrado na nossa língua em um período mais antigo, como isso modificaria ela? Faz sentido pensar que nós teríamos esse ‘q-u-e’, com o som mais atenuado, mais enfraquecido, seguindo a nossa tendência em botar vogal no final de tudo.

Outra mudança que foi muito discutida internet a fora foi a decisão de se transformar “goblin” em “gobelim”. Lopes explica que este caso não estava especificado no Guia de Nomes em O Senhor dos Anéis e que a mudança foi feita com base na própria origem da palavra. “Existe uma palavra em grego e em latim para duende, ‘gobalos’ e ‘kobalos’, passou para o francês como ‘gobelin’ e entrou do francês como o inglês como ‘goblin’”, diz. Com essa trajetória linguística em mente, o Conselho de Tradução que está tomando conta das novas edições da obra de Tolkien pensou em como, historicamente, essa palavra teria sido inserida de acordo com a estética antiga da língua portuguesa — como o encontro consonantal “b-l” é recente, optou-se por grafar a palavra como “gobelim”, usando o “m” no final, de acordo com as normas gramaticais do idioma.

Muitas pessoas questionaram se nomes que já estão na mente dos fãs de O Senhor dos Anéis, como é o caso de “Bolseiro” e “Valfenda”, serão alterados. Lopes diz que não, e que as alterações são feitas apenas em casos onde é possível se aproximar ainda mais da intenção de Tolkien ao usar aquela palavra em específico. “Eu posso adiantar que 90% dos nomes serão mantidos”, explicou o tradutor.

Esta reportagem foi publicada originalmente no site Nerd Bunker, em 22 de outubro de 2018.

Foto de Thomas Schweighofer na Unsplash

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